Victor Meirelles
(Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis, 18 de Agosto de 1832 — Rio de Janeiro, 22 de Fevereiro de 1903)
foi um pintor brasileiro. Filho do casal de imigrantes portugueses Antônio Meireles de Lima e Maria da Conceição. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1847, onde formou-se na Academia Imperial de Belas-Artes. Pintou várias obras históricas entre 1852 e 1900, tendo sido um artista que experimentou as mais díspares alternâncias da existência humana: do reconhecimento ao esquecimento.
Ligado ao neoclassicismo brasileiro, ocorrido na segunda metade do século XIX, Victor Meirelles ganhou notoriedade a partir da década de 1870, ao lado de Pedro Américo e Almeida Júnior.
A vocação de Victor Meirelles para o desenho e pintura foi estimulada pelo engenheiro argentino Marciano Moreno, na época exilado político no Brasil. Aos catorze anos, produziu seu primeiro trabalho conhecido, uma paisagem da Ilha de Santa Catarina. Procurado por Jerônimo Coelho, Conselheiro do Império, Victor Meirelles produziu uma aquarela retratando sua cidade. Levada para o Rio de Janeiro, a obra entusiasmou o diretor da Academia Imperial de Belas Artes, Félix Taunay. Ficava clara sua habilidade para valorizar os detalhes triviais de uma cidade, fato que seria confirmado décadas mais tarde. A Academia resolveu custear os estudos do jovem artista, que seguiu para o Rio de Janeiro em 1847, antes de completar 15 anos de idade, onde permaneceu até 1852. Foram dois anos estudando desenho e três anos voltados à pintura histórica. Em 1852, venceu o Prêmio de Viagem à Europa, com a pintura São João Batista no Cárcere.
Estudos na Europa
Aos 21 anos incompletos, Victor Meirelles desembarcou em Havre, em junho de 1853. Passou brevemente por Paris e o maior tempo de sua estada em Roma e Florença. Em Roma, estudou com Tommaso Minardi e Nicola Consoni, da Acamia São Lucas, destacando-se como paisagista e retratista. Por sua dedicação e prestação de contas à Academia Imperial, teve seu estágio na Europa renovado por três vezes. Em 1856, seguiu para Milão e posteriormente para Paris, onde permaneceu até 1860. Neste período, aperfeiçoou sua pintura com Léon Cogniet e Paul Delaroche, da École des Beaux Arts, onde absorveu os traços romântico-acadêmicos de sua fase histórica. Trocou correspondências com Manuel de Araújo Porto-Alegre, diretor da Academia Imperial e seu mentor intelectual. Foi dele a sugestão para a sua primeira grande pintura, Primeira Missa no Brasil, obra que lhe tomou dois anos de trabalho.
Primeira Missa no Brasil
Detalhe de A Primeira Missa no Brasil, de 1861
Em 1861, a Primeira Missa no Brasil foi aceita com referências pelo júri do Salão de Paris, fato inédito para um artista brasileiro até então. A riqueza de detalhes da pintura de grandes dimensões, representando múltiplas expressões e situações, eternizaram a versão histórica oficial da descoberta do Brasil como um ato heróico e pacífico, celebrado em ecumenismo por colonizadores e indígenas. Se, por um lado, a pintura lhe rendeu homenagens, também originou as primeiras críticas, justamente pelo que seria "um excesso de imaginação".
Esta obra ilustrou muitos livros de estudos de história do ensino fundamental no Brasil na década de 1960.
Retorno ao Brasil
Aos 29 anos, Victor Meirelles retornou ao Brasil e foi condecorado, por D. Pedro II, com o grau de cavaleiro da Imperial Ordem de Cristo e da Imperial Ordem da Rosa. Após passar alguns meses com sua mãe (seu pai falecera em 1854), em Desterro, retornou ao Rio de Janeiro, sendo nomeado Professor Honorário da Academia Imperial. No ano seguinte, assume a cátedra de Pintura Histórica. Em 1868, recebe a encomenda para pintar dois quadros históricos, Combate Naval do Riachuelo e Passagem de Humaitá, episódios ligados à Guerra do Paraguai. Para isso, passa vários meses embarcado em navios da guerra, preparando estudos e esboços para as pinturas que faria no Rio de Janeiro. Nos anos seguintes, em 1875, produz inúmeras pinturas por encomenda da família imperial brasileira, dentre elas o Casamento da Princesa Isabel e os retratos de Dom Pedro II e da Imperatriz Teresa Cristina.
Victor Meirelles e Pedro Américo
A Batalha de Guararapes, com seus quase 45 metros quadrados, foi exposta em 1879, na Academia Imperial, ao lado da Batalha do Avaí, de Pedro Américo, outro reconhecido artista de temas históricos. A exposição originou uma das mais acirradas polêmicas da história da arte brasileira. Enquanto uns reconheciam as habilidades dos pintores, outros os acusavam de plágio, apontando inúmeros detalhes que "justificavam suas críticas". A polêmica foi tão marcante que, em poucos meses, tomou os jornais e revistas.
Panoramas
Em 1885, Victor Meirelles iniciou a execução do Panorama do Rio de Janeiro, uma vista circular tomada a partir do morro do Santo Antônio. Para isso, contou com a ajuda do belga Henri Langerock. Em 1888, a pintura foi exposta em Bruxelas, fazendo uso de um cilindro giratório que permitia aos espectadores contemplar as vistas em 360 graus. Em 1889, a obra foi exposta na Exposição Universal de Paris e, posteriormente, no Rio de Janeiro. No Brasil, Victor Meirelles produziu outras pinturas nessa linha, como o Panorama da Entrada da Esquadra Legal - Revolta da Armada e o Panorama do Descobrimento do Brasil. Porém Vitor, jamais quis colcar em sua obra, o exérctio brasileiro. ele preferia pintar o cotidiano, o comum, mas numa forma mais incomum. A batalha do Guararapes surgiu devido a uma vontade incontrolavel, de saber o que ocorria na frente de batalha
Esquecimento e morte
Em 1889, com a Proclamação da República, veio a perseguição política aos artistas oficiais da Monarquia e a demissão precoce da Escola Nacional de Belas Artes, que substituiu a Academia Imperial. Victor Meirelles, aos 57 anos, foi afastado com o pretexto de já possuir idade avançada. Em 1893, o artista tentou fundar sua própria escola, não obtendo sucesso. Sem recursos, o artista instalou o Panorama do Rio de Janeiro num barraco, onde cobrava um mil réis por visitante. Parte desses recursos foi usada para sua sobrevivência e a outra parte foi revertida, por decisão do próprio artista, para a Santa Casa de Misericórdia. O júbilo e o reconhecimento do artista se transformaram em miséria. Muitas obras se perderam por ignorância das autoridades da época, que não souberam distinguir a ideologia política da arte em sua essência. O artista finalmente desiste de produzir e segue sua vida doente e abandonado. Na manhã de um domingo de carnaval, em 22 de fevereiro de 1903, Victor Meirelles não resiste e morre, aos 70 anos, na casa simples onde vivia. Nada mudaria a animação dos foliões na capital da República, nem mesmo a morte de um dos maiores pintores da história brasileira.
Alguns anos após a morte do pintor, seus panoramas foram estocados em depósitos na Quinta da Boa Vista, onde apodreceram e mofaram com a humidade. Considerados irrecuperáveis, as obras foram jogadas na bacia da Guanabara. O artista pensava que seria reconhecido pelas futuras gerações devido a esses grandes panoramas, porém tudo o que foi salvo foram pequenos esboços.
Ligado ao neoclassicismo brasileiro, ocorrido na segunda metade do século XIX, Victor Meirelles ganhou notoriedade a partir da década de 1870, ao lado de Pedro Américo e Almeida Júnior.
A vocação de Victor Meirelles para o desenho e pintura foi estimulada pelo engenheiro argentino Marciano Moreno, na época exilado político no Brasil. Aos catorze anos, produziu seu primeiro trabalho conhecido, uma paisagem da Ilha de Santa Catarina. Procurado por Jerônimo Coelho, Conselheiro do Império, Victor Meirelles produziu uma aquarela retratando sua cidade. Levada para o Rio de Janeiro, a obra entusiasmou o diretor da Academia Imperial de Belas Artes, Félix Taunay. Ficava clara sua habilidade para valorizar os detalhes triviais de uma cidade, fato que seria confirmado décadas mais tarde. A Academia resolveu custear os estudos do jovem artista, que seguiu para o Rio de Janeiro em 1847, antes de completar 15 anos de idade, onde permaneceu até 1852. Foram dois anos estudando desenho e três anos voltados à pintura histórica. Em 1852, venceu o Prêmio de Viagem à Europa, com a pintura São João Batista no Cárcere.
Estudos na Europa
Aos 21 anos incompletos, Victor Meirelles desembarcou em Havre, em junho de 1853. Passou brevemente por Paris e o maior tempo de sua estada em Roma e Florença. Em Roma, estudou com Tommaso Minardi e Nicola Consoni, da Acamia São Lucas, destacando-se como paisagista e retratista. Por sua dedicação e prestação de contas à Academia Imperial, teve seu estágio na Europa renovado por três vezes. Em 1856, seguiu para Milão e posteriormente para Paris, onde permaneceu até 1860. Neste período, aperfeiçoou sua pintura com Léon Cogniet e Paul Delaroche, da École des Beaux Arts, onde absorveu os traços romântico-acadêmicos de sua fase histórica. Trocou correspondências com Manuel de Araújo Porto-Alegre, diretor da Academia Imperial e seu mentor intelectual. Foi dele a sugestão para a sua primeira grande pintura, Primeira Missa no Brasil, obra que lhe tomou dois anos de trabalho.
Primeira Missa no Brasil
Detalhe de A Primeira Missa no Brasil, de 1861
Em 1861, a Primeira Missa no Brasil foi aceita com referências pelo júri do Salão de Paris, fato inédito para um artista brasileiro até então. A riqueza de detalhes da pintura de grandes dimensões, representando múltiplas expressões e situações, eternizaram a versão histórica oficial da descoberta do Brasil como um ato heróico e pacífico, celebrado em ecumenismo por colonizadores e indígenas. Se, por um lado, a pintura lhe rendeu homenagens, também originou as primeiras críticas, justamente pelo que seria "um excesso de imaginação".
Esta obra ilustrou muitos livros de estudos de história do ensino fundamental no Brasil na década de 1960.
Retorno ao Brasil
Aos 29 anos, Victor Meirelles retornou ao Brasil e foi condecorado, por D. Pedro II, com o grau de cavaleiro da Imperial Ordem de Cristo e da Imperial Ordem da Rosa. Após passar alguns meses com sua mãe (seu pai falecera em 1854), em Desterro, retornou ao Rio de Janeiro, sendo nomeado Professor Honorário da Academia Imperial. No ano seguinte, assume a cátedra de Pintura Histórica. Em 1868, recebe a encomenda para pintar dois quadros históricos, Combate Naval do Riachuelo e Passagem de Humaitá, episódios ligados à Guerra do Paraguai. Para isso, passa vários meses embarcado em navios da guerra, preparando estudos e esboços para as pinturas que faria no Rio de Janeiro. Nos anos seguintes, em 1875, produz inúmeras pinturas por encomenda da família imperial brasileira, dentre elas o Casamento da Princesa Isabel e os retratos de Dom Pedro II e da Imperatriz Teresa Cristina.
Victor Meirelles e Pedro Américo
A Batalha de Guararapes, com seus quase 45 metros quadrados, foi exposta em 1879, na Academia Imperial, ao lado da Batalha do Avaí, de Pedro Américo, outro reconhecido artista de temas históricos. A exposição originou uma das mais acirradas polêmicas da história da arte brasileira. Enquanto uns reconheciam as habilidades dos pintores, outros os acusavam de plágio, apontando inúmeros detalhes que "justificavam suas críticas". A polêmica foi tão marcante que, em poucos meses, tomou os jornais e revistas.
Panoramas
Em 1885, Victor Meirelles iniciou a execução do Panorama do Rio de Janeiro, uma vista circular tomada a partir do morro do Santo Antônio. Para isso, contou com a ajuda do belga Henri Langerock. Em 1888, a pintura foi exposta em Bruxelas, fazendo uso de um cilindro giratório que permitia aos espectadores contemplar as vistas em 360 graus. Em 1889, a obra foi exposta na Exposição Universal de Paris e, posteriormente, no Rio de Janeiro. No Brasil, Victor Meirelles produziu outras pinturas nessa linha, como o Panorama da Entrada da Esquadra Legal - Revolta da Armada e o Panorama do Descobrimento do Brasil. Porém Vitor, jamais quis colcar em sua obra, o exérctio brasileiro. ele preferia pintar o cotidiano, o comum, mas numa forma mais incomum. A batalha do Guararapes surgiu devido a uma vontade incontrolavel, de saber o que ocorria na frente de batalha
Esquecimento e morte
Em 1889, com a Proclamação da República, veio a perseguição política aos artistas oficiais da Monarquia e a demissão precoce da Escola Nacional de Belas Artes, que substituiu a Academia Imperial. Victor Meirelles, aos 57 anos, foi afastado com o pretexto de já possuir idade avançada. Em 1893, o artista tentou fundar sua própria escola, não obtendo sucesso. Sem recursos, o artista instalou o Panorama do Rio de Janeiro num barraco, onde cobrava um mil réis por visitante. Parte desses recursos foi usada para sua sobrevivência e a outra parte foi revertida, por decisão do próprio artista, para a Santa Casa de Misericórdia. O júbilo e o reconhecimento do artista se transformaram em miséria. Muitas obras se perderam por ignorância das autoridades da época, que não souberam distinguir a ideologia política da arte em sua essência. O artista finalmente desiste de produzir e segue sua vida doente e abandonado. Na manhã de um domingo de carnaval, em 22 de fevereiro de 1903, Victor Meirelles não resiste e morre, aos 70 anos, na casa simples onde vivia. Nada mudaria a animação dos foliões na capital da República, nem mesmo a morte de um dos maiores pintores da história brasileira.
Alguns anos após a morte do pintor, seus panoramas foram estocados em depósitos na Quinta da Boa Vista, onde apodreceram e mofaram com a humidade. Considerados irrecuperáveis, as obras foram jogadas na bacia da Guanabara. O artista pensava que seria reconhecido pelas futuras gerações devido a esses grandes panoramas, porém tudo o que foi salvo foram pequenos esboços.
Postado por HRubiales
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